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quarta-feira, dezembro 26, 2012

António de Figueiredo

Há semanas, uma das mais fiéis amigas deste blogue, Helena Oneto, referiu-se, num comentário, a António de Figueiredo (1929-2006), um jornalista português que passou grande parte da sua vida em Londres. Decidi lembrá-lo hoje.

Para a minha geração, António de Figueiredo era um nome mítico do jornalismo português que, no estrangeiro, que se opunha ao Estado Novo. Representante do general Humberto Delgado em Londres, a partir de 1959, havia trabalhado na secção portuguesa da BBC e no "The Guardian", tendo artigos dispersos por imensas outras publicações. Em 1961, tinha ficado histórico o seu "Portugal and its Empire: the truth" e, em 1975, foi muito divulgado o livro que publicou na Penguin, "Portugal: fifty years of dictatorship". Amigo de Basil Davidson, dedicou, como este, uma grande atenção à luta anti-colonial e anti-apartheid, sendo internacionalmente reconhecido como um especialista na matéria. Após 1974, e de quando em vez, textos seus surgiram na imprensa portuguesa.

Um dia, em Londres, creio que em 1990, o Eugénio Lisboa (com ou sem o Rui Knopfli, já não recordo bem), levaram-me a almoçar com ele a um restaurante italiano de Knightsbridge, onde o Eugénio era "habitué". Ambos haviam conhecido Figueiredo em Moçambique, para onde fora viver aos 17 anos e se iniciou no jornalismo. Envolvido na luta oposicionista em Lourenço Marques, viria a ser preso na sequência das "eleições" perdidas pelo "general sem medo", sendo depois expulso para Portugal. No ano seguinte, rumou a Londres, onde ficou até à sua morte, em 2006.

António de Figueiredo movimentava-se com alguma dificuldade, devido a uma doença de espinha que o limitava. Tinha uma memória fantástica, histórias curiosas sobre o mundo que rodeou o "general sem medo" e sobre o ambiente da oposição à ditadura portuguesa em Londres. Não era aquilo a que se chama um homem naturalmente simpático. Havia nele uma certa amargura e alguma acidez crítica, talvez fruto de uma vida que não fora fácil e do que me pareceu ser a falta de um reconhecimento público, em Portugal, pelo papel político que desempenhara contra a ditadura.

Dois anos mais tarde, convidou-me para ir beber um chá a sua casa, nos arredores de Londres. Era uma residência modesta, onde vivia num mundo de livros, uma imensa e riquíssima biblioteca sobre África, construída ao longo de décadas. Esforçava-se por organizá-la, a fim de poder vender uma parte dela a um comprador público em Portugal, mas as suas condições físicas tornavam difícil a tarefa. Com sorte, consegui arranjar forma de custear um jovem colaborador, que com ele levou a cabo esse trabalho. Julgo que o negócio se concluiu e que António de Figueiredo pôde beneficiar desses recursos, uma soma considerável para a época, nos últimos anos da sua vida. Ainda tive o gosto de testemunhar, em 1993, o almoço em Belgrave Square em que o presidente Mário Soares o distinguiu com a "Ordem da Liberdade". Um gesto que, estou certo, muito apreciou.

Vale a pena ver o que o "The Guardian" escreveu por ocasião da sua morte. Porque não consegui encontrar nenhuma fotografia de António de Figueiredo, deixo a capa do seu conhecido livro de 1961.

Os EUA, a ONU e Gaza

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