quarta-feira, outubro 07, 2009

Amália em Paris

Ainda no quadro destes dez anos sem Amália, vale a pena registar uma imagem que dela resta, como homenagem, numa parede da rue Mouffetard, em Paris, que nos foi cedida por uma leitora atenta deste blogue.

terça-feira, outubro 06, 2009

Cardeais

A Embaixada de Portugal junto da Santa Sé - "posto santo e santo posto", como ironicamente se diz, por vezes, na nossa carreira - ocupa em Roma um belíssimo palácio, com um deslumbrante e imenso jardim.

Havia - embora eu desconheça se ainda há - uma velha tradição naquele posto diplomático: sempre que um cardeal vinha jantar à Embaixada, dois empregados, fardados à antiga, deslocavam-se até ao portão de entrada, munidos de duas tochas ardentes, e acompanhavam os "príncipes da Igreja" até à escadaria do edifício.

A história que me chegou, já com bastantes anos, diz respeito a um desses jantares, a que dois cardeais iriam estar presentes. Presumo que tal evento constitua sempre um momento especial, pelo que digno do maior cuidado protocolar. Porém, nessa noite, algo terá corrido menos bem e os arranjos coreográficos de recepção, com vista a garantir o acolhimento dos cardinalícios comensais pelos fâmulos de serviço, acabaram por não se conjugar de forma harmoniosa. Por uma qualquer razão, quiçá devida a uma informação errada recebida ao portão, os cardeais, logo que entrados no jardim, e porque não tinham os tocheiros à sua espera, decidiram meter-se a caminho, em direcção à residência. Fizeram-no, porém, por um percurso ínvio que os fez entrar na casa por uma porta lateral e aceder a uma sala vazia, onde serena e discretamente se acomodaram, esperando que alguém os viesse receber.

Alertados pela portaria, embora com atraso, da chegada dos cardeais, os fâmulos de libré para aí haviam corrido, com as chamas das suas tochas ao vento, quais portadores de facho olímpico. Porém, lá chegados, foram informados que as reverendíssimas visitas já teriam dado entrada no jardim. O pânico criado pela "gaffe" acelerou-lhes então o passo e, conta-se, o espectáculo seguinte foi digno de opereta: sob o olhar ansioso dos embaixadores e convidados, o breu do grande jardim da Embaixada passou a ser cruzado, durante vários minutos, por duas nervosas e lépidas tochas ardentes, que corriam atarantadas de um lado para o outro, espiando todos os escaninhos possíveis, na desesperada e cada vez mais angustiada busca das figuras cardinalícias perdidas.

O resto da história não a conheço, mas podemos imaginar que, descobertos finalmente por alguém no aposento onde esperavam, com a infinita paciência que a sua instituição lhes incutiu, aos nossos cardeais tenha entretanto chegado um reconfortante Porto ou, pelo menos, um vero limoncello...

Amália

O meu colega embaixador Manuel Maria Carrilho vai apresentar, para o ano, no âmbito da UNESCO, a candidatura do Fado a "património imaterial da humanidade". Trata-se de uma excelente iniciativa e acaba por ser uma justa coincidência com os dez anos que passam, hoje mesmo, sobre a morte de Amália Rodrigues - a qual, não por acaso, é a única mulher cujo túmulo integra o nosso Panteão Nacional.

A França é porventura o país do mundo onde o nome de Amália se mantém, com mais força, identificado à imagem de Portugal, muito graças ao culto e à acção de personalidades francesas que aqui se esforçam por manter bem viva a sua memória - de que o caso mais notável é Jean-Jacques Lafaye -, bem como ao insubstituível lugar que ela continua a ter na afectividade dos nossos compatriotas e dos seus descendentes.

Eu próprio, dou por mim, quando passo pelo "Olympia", a recordar o modo como, em Portugal, íamos sabendo do êxito das passagens de Amália por esse lugar mítico da música francesa. O lugar onde ela começou um dia por cantar isto.

segunda-feira, outubro 05, 2009

De gravata

A cena passou-se nos últimos meses de 1968.

Toda a direcção associativa universitária, de que eu fazia parte, eleita pelos estudantes com uma expressiva maioria de votos, fora recusada pelo Ministério da Educação - a eleição fora "não homologada", como então se dizia.

Um parêntesis para referir que era assim que as coisas se passavam antes do 25 de Abril, pelo que convém recordá-lo às novas gerações: se os dirigentes eleitos pelo estudantes não agradavam ao poder político, não eram autorizados a tomar posse. Tanto podia ser recusada a lista toda, como podiam ser "seleccionados" apenas alguns elementos como não aceitáveis - como me voltou a suceder mais tarde, a mim e ao Fausto (esse mesmo, o cantautor famoso), em 1972.

Este tipo de decisões era sempre seguido pela nomeação de uma "comissão administrativa" escolhida pelo poder, constituída por alguns dos seus complacentes cúmplices, os quais, por regra, vinham posteriormente justificar perante nós a sua farisaica atitude, com o argumento de terem aceite apenas para evitar o encerramento da Associação Académica, para dar continuidade à edição das "sebentas", etc.

Esse ano de 1968 foi, em Portugal, muito complicado.

O Maio parisiense ainda estava próximo e nós havíamos editado uma revista bem irreverente, chamada "Ibis", onde as ideias desse movimento estavam muito reflectidas e eram adaptadas à realidade portuguesa. Era o prenúncio de uma importante agitação académica que começava a grassar e que viria a incendiar as nossas universidades no ano seguinte.

Em Agosto de 1968, Salazar caíra da cadeira, em Setembro caíra do poder, Marcelo Caetano ensaiva a farsa da "primavera política", mantendo o mesmo ministro da Educação escolhido por Salazar: José Hermano Saraiva, a figura que todos conhecem, hoje com um perfil inofensivo, que a liberdade que então combatia transformou em divulgador televisivo de uma visão pessoal dos factos históricos nacionais.

À época, o Ministério da Educação, chefiado por José Hermano Saraiva, era no Campo de Santana, em Lisboa. A direcção académica de que eu fazia parte, eleita mas "não homologada", havia pedido uma audiência ao ministro, para protestar contra essa "não homologação". Para nossa grande surpresa, este acedeu a receber-nos. A coreografia da "primavera política" tinha destes gestos.

Num primeiro contacto com o gabinete do ministro, surge um inesperado problema: um de nós, o Raul Caixinhas, não tinha gravata. E o senhor ministro, foi-nos dito, não recebia pessoas sem gravata. A verdade é que, à época, a gravata era um adereço obrigatório para se assistir às aulas. Por maioria de razão, compreendia-se que ela fosse indispensável para a visita a um ministro.

Que fazer? O Caixinhas era um interlocutor importante para o diálogo que se iria seguir, não podia faltar ao encontro e ficar à porta. Tinha de arranjar uma gravata! Saiu disparado e, um quarto de hora depois, reapareceu de gravata posta. Preta, claro. E lá entrou a nossa direcção associativa para a audiência. Esta acabou por converter-se numa patética conversa entre um ministro de uma ditadura e um grupo de estudantes que a ela abertamente se opunham, pelo que a reunião, como seria de esperar, foi totalmente inconclusiva. Se bem que tivesse tido alguns pontos pícaros, como os insistentes olhares lúbricos do ministro para as mini-saias de algumas capitosas colegas que nos acompanhavam, mas isso não vem para esta história.

À saída, alguns de nós não deixaram de ironizar com a tradicional rebeldia do Caixinhas: "então lá tiveste que pôr gravata, pá!". O Caixinhas desarmou-nos: "É verdade, fui de gravata. Mas, para compensar, fui sem meias!". E mostrou-nos as peúgas que entretanto metera no bolso, antes de entrar para a audiência com o ministro. Julgo que os funcionários do Ministério da Educação nunca perceberam a razão por que descemos as escadas às gargalhadas. Pensavam, talvez, que nos estávamos a rir do ministro. E, de certa maneira, estávamos.

Georgios

Georgios Papandreou foi ontem eleito primeiro-ministro da Grécia.

Desde o tempo em que foi secretário de Estado e depois ministro dos Negócios Estrangeiros do seu país, Georgios anima anualmente um clube internacional de discussão, para o qual tive o privilégio de ser por ele convidado algumas vezes - o Symi Symposium. António Guterres e Jaime Gama foram os outros portugueses presentes nessas reuniões, que têm uma composição variável. Por lá passaram já Bill Clinton, Amartya Sen, Joseph Stiglitz, Richard Holbrook, Fernando Henrique Cardoso, Yossi Beilin, Ségolène Royal, etc. São encontros com cerca de 25 pessoas, cada uma de sua nacionalidade, realizados sempre em locais diferentes da Grécia, nos quais, durante uma semana, se pensa livremente o mundo e, muito em especial, a Europa.

Houve um desses debates, creio que em 1999, que nunca mais esquecerei. Estávamos no tempo imediatamente posterior à grande crise do Kosovo e, à mesa, desencadeou-se uma acesa discussão entre uma resistente sérvia, aberta opositora de Milosevic, e um intelectual kosovar, recém-saído de meses de clandestinidade em Pristina. Num certo momento, o kosovar, num óbvio excesso de argumento, volta-se para nossa amiga sérvia e ataca-a da seguinte forma: "tu podes ser pró ou anti-Milosevic, mas o problema que nunca poderás ultrapassar é o facto de seres sérvia!".

Todos ficámos gelados! O ambiente de diálogo e cordialidade que caracteriza, desde há vários anos, aquelas reuniões, que não impede discussões acesas e vivas, nunca terá chegado a um extremo tal de agressividade, muito fruto de um tempo de tensão balcânica que, de certo modo, cuja conflitualidade inter-étnica ficámos naquele instante a perceber bem melhor.

Foi então que, com o seu ar sereno, no tom suave que nunca perde, Georgios interveio. E fê-lo para contar uma história, que se tinha passado consigo, já há muitos anos.

Durante a ditadura militar grega, o seu pai, Andreas Papandreou, que mais tarde viria a ser primeiro-ministro, encontrava-se na clandestinidade. Uma noite, o exército invadiu a casa da família de Georgios, que era então adolescente, e levou-o de carro para uma qualquer zona da Grécia. Umas horas mais tarde, ao chegarem a uma moradia isolada, cercada pela tropa, Georgios viu o oficial que o detivera e que comandava o grupo pegar num megafone e dirigir-se à habitação, que logo compreendeu ser o esconderijo onde estava o seu pai. O oficial gritou então para que Andreas Papandreou se rendesse, informando-o de que tinha ali o seu filho, que prenderia se ele não se rendesse, tudo isto acompanhado de outras ameaças violentas. Perante este cobarde ultimatum, o pai Papandreou entregou-se e foi preso.

A história que Georgios nos contou tinha um significado que ele pretendia projectar no ambiente de tensão que se criara no nosso debate. E acrescentou: "na passada semana, encontrei casualmente o militar que fez essa chantagem comigo e com o meu pai, utilizando-me como refém. Estendi-lhe a mão e cumprimentei-o. Essa é a nossa superioridade como democratas".

Recordo-me que todos olhámos para os nossos amigos da Sérvia e do Kosovo, para tentar perceber se eram sensíveis à lição. Não estou certo que ela tenha sido eficaz.

Se outras razões não tivesse, fruto da minha já antiga amizade com Georgios Papandreou, este testemunho reforçou-me a admiração pelo perfil humanista do homem que, desde ontem, dirige os destinos da Grécia. E a quem já dei os meus sinceros parabéns.

Gonçalo M. Tavares

Foi um prazer passar hoje pela "Écume des Pages" (esse belo nome para livraria, que se inspira numa obra desse génio que se chamou Boris Vian) e ver na montra, com grande destaque, a página que insere o elogioso artigo que a "Livres Hebdo" dedica ao romance "Jerusalem", do prolífico escritor português Gonçalo M. Tavares.

Passo a passo, a nova literatura portuguesa vai-se afirmando em França.

domingo, outubro 04, 2009

Viva a República!

Em 5 de Outubro de 1910, foi instaurado em Portugal aquele que viria a ser o segundo regime republicano do continente europeu, depois da França. A partir de então, os seus inimigos combateram-no e acabaram por contribuir para desestabilizar a jovem República, criando condições para a imposição do regime ditatorial que, de 1926 a 1974, esmagou a liberdade e abafou a vida portuguesa por quase meio século.

Durante o ano de 2010, a Embaixada de Portugal em Paris promoverá iniciativas alusivas à data e associar-se-á a eventos comemorativos do Centenário da República - esse momento fundador da modernidade política portuguesa.

Viva a República!

Saudades do Chile



O golpe militar que derrubou o governo de Salvador Allende, no Chile, em 11 de setembro de 1973, teve um forte impacto emocional na geração política portuguesa que, por cá, expressava então a sua revolta contra a ditadura. À época, eu fazia serviço militar e recordo bem acesas discussões por ali tidas com colegas conservadores, que se regozijaram com o êxito de Pinochet e dos seus esbirros. 

O 25 de Abril como que nos vingou e foi com um sentimento de forte solidariedade que, em Lisboa, a partir de 1974, viemos a conhecer alguns chilenos que haviam sido forçados ao exílio. Com eles, partilhámos o sucesso da nossa Revolução. Recordo-me de gente do MIR (Movimiento de Izquierda Revolucionaria), com quem passei tempos à conversa nas instalações do MES (Movimento de Esquerda Socialista), na avenida dom Carlos.

Seis anos mais tarde, no meu primeiro posto no estrangeiro, na Noruega, vim a cruzar outros chilenos, expatriados nas mesmas condições. Os países nórdicos acolhiam então com generosidade essas pessoas, a quem facilitavam meios para a sua sustentação. A vida dessa gente era muito simples: empregos em fábricas ou serviços, habitações sem o menor luxo e, como pano de fundo de tudo isso, um ambiente de imensa saudade do seu país.

Um dia, em Oslo, fomos assistir a um espetáculo musical da argentina Mercedes Sosa, conhecida por "La negra", uma cantora que, ao longo da vida, seria uma das vozes mais críticas das ditaduras militares latino-americanas. O seu "Gracias a la vida" marcava-nos então bastante.

Fui ao espetáculo num grupo de diplomatas, que, além de espanhóis e de um brasileiro, integrava um chileno, casado com uma paraguaia, e um casal colombiano. As questões políticas não atravessavam, por regra e por prudência, a conversa de todas aquelas pessoas, jovens profissionais da diplomacia, todos no seu primeiro posto no exterior, que se iam encontrando em agradáveis convívios ao final do dia de trabalho. À época, eu era, com toda a certeza, a pessoa mais à esquerda de todo aquele grupo, sendo que o chileno, que se chamava Enrique, representava o governo de Pinochet. Mas, curiosamente, ambos ficámos amigos para a vida, sem termos tocado alguma vez em temas que pudessem trazer à tona as nossas óbvias divergências. Nas décadas profissionais que se seguiram, vim a apurar esta forma de estar na vida. Ainda hoje tento funcionar assim.

No final do espetáculo, vi os meus amigos latino-americanos a falarem com outras pessoas com a mesma origem geográfica, que ali tinham acabado de conhecer, todos unidos pela voz e pela música de "La negra". Com o meu "portuñol", meti-me na conversa. E, numa dessas sintonias caídas do acaso, vi-me a trocar impressões com um chileno, que, no passo da conversa, me referiu ser exilado. O nome de Allende veio com naturalidade à baila, e ele disse-me ser irmão da mítica "Payita", secretária de Salvador Allende. Num instante, alguma sintonia ideológica se estabeleceu entre nós. Trocámos telefones e, dias depois, o Fermin, era esse o nome do chileno, convidou-me, a mim e à minha mulher, para uma almoço simples, num domingo, em sua casa. 

Vivia num modesto apartamento, numa zona menos nobre de Oslo, a que se acedia por uma escada esconsa. Lembro-me bem do aviso que me fez, logo que entrei na casa: "Daqui a pouco, vai chegar, para o almoço, o Enrique, o teu colega da embaixada do Chile. Não te espantes!" Eu espantei-me um pouco, confesso, mas ele logo explicou: "Ele é um chileno como eu e nem imaginas como me fará bem conversar com alguém que também vem do meu país. Temos de adiar a conversa política entre nós os dois para "unas copas", numa outra ocasião". 

E assim aconteceu. Minutos depois, chegaram o Enrique e a Monse. A política, quiçá estranhamente, não passou por aquelas horas em que a saudade dos dois foi atenuada por algumas garrafas de "Casillero del Diablo", um sofrível vinho chileno trazido pelo Enrique, o único que havia à venda no monopólio estatal de venda de bebidas alcoólicas, Vinmonipolet.

Se hoje tenho uma invejável colecção dos "Rolling Stones", em vinil, devo isso ao Fermin, um amigo magnífico, um revolucionário romântico, cujo partido esqueci, que trabalhava numa fábrica de discos e insistia em me municiar regularmente com discos. Em algumas noites em minha casa, para as quais cuidávamos em não juntar à festa o diplomata chileno, para podermos conversar sobre as nossas afinidades políticas, ouvimos deliciados Violeta Parra e Victor Jara. E, para sempre, guardei a imagem de vê-lo chorar a escutar Zeca Afonso...

Pela vida, com grande pena minha, fui perdendo contacto com imensas pessoas que conheci. Uma delas foi esse meu amigo chileno Fermin, que conheci na Noruega, no final de um concerto de Mercedes Sosa. A qual, segundo as notícias que me chegam, morreu agora.

Emmanuel

Foi muito interessante e divertido o espectáculo "L'Européenne", ontem apresentado no Théâtre des Abesses, em Montmartre. Uma curiosa construção dramática sobre o dilema da compreensão interlinguística no seio da União Europeia, da autoria de David Lescot, com um jovem actor português, Victor Hugo Pontes, no seu elenco. (Leia o que disse o "Le Monde").

O espectáculo tem lugar no âmbito da acção do Théâtre de la Ville, da Mairie de Paris, dirigido por Emmanuel Demarcy-Mota.

Nascido em Paris, em 1970, filho de Teresa Mota, uma importante personalidade do teatro português, e de uma grande figura da dramaturgia francesa, Richard Demarcy, Emmanuel viveu desde sempre nos meios teatrais, ascendendo muito cedo a lugares de responsabilidade, tendo já hoje uma carreira marcada por imensos sucessos. É, aqui em França, uma das mais proeminentes marcas do teatro contemporâneo.

E, já agora, acrescento: fala português como qualquer de nós! Ontem, Daniel Ribeiro fez-lhe um retrato e uma entrevista no suplemento "Actual", do "Expresso", que recomendo a quem o quiser conhecer melhor.

sábado, outubro 03, 2009

Gravatas

A cena de um líder partidário se apresentar para uma reunião oficial com o chefe de Estado português sem usar gravata - o que, aliás, julgo já ter acontecido no passado - sublinhou , definitivamente, o facto da camisa aberta ter passado a ser uma forma cada vez mais natural dos políticos portugueses se apresentarem em público. Nuns casos, será a mostra de uma assumida rebeldia contra hábitos considerados burgueses, noutros terá sido a colagem a uma certa modernidade de vestuário, àquilo a que os brasileiros chamam de "esporte fino". Ainda em outras circunstâncias, presumo, deve ser já o efeito da nossa quota no aquecimento global, muito embora a generalização do uso do ar condicionado às vezes atenue um pouco a pertinência do argumento.

O modelo da camisa aberta sob o casaco tem, porém, algumas não despiciendas "nuances". Numa versão "soft", os políticos abrem apenas um botão da camisa; na fórmula mais "avançada" abrem dois botões. De uma coisa podem ficar certos: nada disto é casual (pelo contrário, como diriam os anglo-saxónicos, é mesmo "very casual") e estamos perante fenómenos que convocam lições de semiologia! Cada botão aberto a mais corresponde a uma fatia acrescida de informalidade que se pretende incutir no subsconsciente do público, normalmente à procura de identificação com um eleitorado mais jovem ou descontraído, com tudo o que isso encerra de mensagem subliminar.

Esta evolução de trajes públicos, diga-se, já tinha sido prenunciada, em termos bem mais radicais, pelos representantes da comunicação social. Hoje em dia, em Portugal, numa qualquer conferência de imprensa ou acto oficial, por mais solene que ele seja, é vulgar ver jornalistas, portadores de "cornetos" de som, fotógrafos ou "cameramen" vestidos das formas mais bizarras, alguns com um ar que se aproxima já do dos arrumadores de carros, às vezes de t-shirt e ténis, como se eles próprios se considerassem "invisíveis" no cenário e não se sentissem obrigados a respeitar o rigor do acto em que também estão inseridos. E, num dia não muito distante, lá chegaremos ao fato-de-treino! Basta olhar para as conferências de imprensa da Casa Branca e fazer a comparação!

Mas há um hábito, já não dos políticos mas de cidadãos em geral, que, para mim, se tornou extremamente irritante: o de trazer a gravata descaída, com o botão aberto, por mero desleixo, por pura saloiíce ou fruto do calor (caso em que seria preferível tirá-la), outras vezes por assumida moda. Mas, neste último caso, já nada há a fazer, é um facto da vida: na televisão francesa há mesmo um jornalista que apresenta um "talk show" sério vestido dessa forma.

Sempre que posso, não uso gravata. Mas sentiria algum desconforto em pensar não utilizá-la em certas circunstâncias. Deve ser da idade. Da mesma maneira que hoje é permitido, cada vez mais, não usar gravata em certas ocasiões, espero que não venha a ser proibido usá-la quando me apetecer. É que eu gosto de gravatas, como já devem ter percebido!

Nice

Hoje, vá-se lá saber porquê, senti saudades de Nice.

sexta-feira, outubro 02, 2009

Alemanha

Há 20 anos, o muro de Berlim caía e a reunificação alemã iniciava-se.

Ontem, na Embaixada alemã em Paris, uma festa celebrou, por antecipação, esse histórico momento em que uma nova Europa estava a começar. Todos parecem reconhecer hoje as virtualidades desse passo político e o modo como ele veio a contribuir para a estabilidade europeia. O que viria a ocorrer depois, no Centro e no Leste do continente, completou o fim da traumática divisão alemã e consagrou a própria reunificação política do continente, simbolizada nos alargamentos da União Europeia e da NATO.

Mas nem sempre foi assim. Ao tempo da queda do muro, muitas dúvidas se levantavam ainda sobre qual iria ser o destino dessa nova Alemanha, se o seu histórico tropismo para Leste suplantaria a força das alianças que entretanto gizara a Oeste. Alguns mantinham ainda o cínico dito do pós-guerra: "gosto tanto da Alemanha que até prefiro que existam duas!".

O tempo veio a provar que tais reticências eram totalmente infundadas e que a evolução da Alemanha se fez num sentido consonante com os interesses da unidade europeia, para a qual muito contribuiu e de que continua hoje a ser um dos principais esteios.

Rio olímpico

O Cristo do Corcovado pode sorrir. Daqui a sete anos terá a seus pés os Jogos Olímpicos.

Um forte abraço de parabéns para os meus amigos brasileiros.

João Moniz

Foi um público muito diverso, onde se pôde contar com muita gente do sector artístico, aquele que ontem esteve na Embaixada de Portugal em Paris, na apresentação das obras mais recentes de João Moniz.

O pintor trabalha entre Paris e Lisboa e, desde 1967, apresentou diversas exposições individuais e participou em dezenas de mostras colectivas. Quadros seus fazem parte de colecções de muitas instituições e particulares, um pouco por todo o mundo.

quinta-feira, outubro 01, 2009

Financeiros

São umas dezenas de jovens na casa dos 20 e dos 30 anos, portugueses ou luso-descendentes, que ocupam lugares técnicos de relevo em empresas em França. Reúnem-se mensalmente, para reforçar amizades, contactos e lusitanidade. Chamam-se a si próprios a "Confraria dos Financeiros" e têm homólogos no Luxemburgo e no Reino Unido.

Ontem, estive a jantar com eles e a aprender um pouco o que é esta nossa nova comunidade, unida pelas raízes portuguesas, leal à França onde se inserem plenamente, com o seu presente marcado já pelas principais profissões do futuro.

Ocupação

Um grupo britânico de "okupas", dedicado a ocupar casas devolutas, acaba de instalar-se numa moradia em Belgravia, umas das zonas mais prestigiosas de Londres, perto da casa de Margareth Thatcher, da Embaixada de Portugal e, ao que li na imprensa, de Vale a Azevedo.

Esta história recordou-me uma outra, ocorrida em S. Paulo, no Brasil, há alguns anos. Um grupo de "sem abrigo" ocupou um andar de luxo, desabitado, na zona dos Jardins. Ao final de alguns dias, os ocupantes desistiram da ocupação, não por qualquer atitude coerciva, mas, muito simplesmente, por terem concluído que os preços dos produtos básicos, em todas as lojas da zona, era muito superior àquilo que poderiam pagar no seu dia-a-dia.

Tal não será o caso de Belgravia, pelo género de ocupantes e pela própria geografia. Por todas as razões, a história terá, sem dúvida, um final diferente.

"P'ra não dizer que não falei das flores"

Economia

Os docentes universitários Carlos Pereira e Dulce Santos acabam de preparar para a Pocket , aqui em França, este interessante pequeno livro, "pour maîtriser la langue des affaires", um bom instrumento de trabalho para a área económica.
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Num tempo em que é importante reforçar o intercâmbio económico bilateral, aqui está uma excelente iniciativa, a saudar.

Política externa

Ao longo da campanha eleitoral que há dias se concluiu, alguns comentadores estranharam o facto da política externa, tal como a política de defesa, não ter sido objecto de debates, embora constasse dos programas de todos os partidos.

Contrariamente a quantos entendem que as questões de ordem externa ganham em ser alimento para o confronto político-partidário, devo confessar que, como profissional da diplomacia, fiquei muito satisfeito em vê-las afastadas da polémica eleitoral. O que, no entanto, não exclui a necessidade de tais opções deverem ser regularmente abertas a uma reanálise serena e objectiva, na qual se insira a apresentação de propostas alternativas para a sua condução, à luz das mudanças que a conjuntura e a evolução dos nossos interesses justificarem.

Ao longo de mais de 35 anos de regime democrático, com excepções ligadas a certos momentos do período da consolidação do novo regime e, num tempo mais recente, a uma episódica leitura ultra-zelosa de alinhamentos tradicionais, a nossa política externa tem mantido uma constância e um perfil de grande continuidade e de elevado consenso interno, que se reflecte nos programas e práticas dos vários Governos. E permitam-me que diga que sei do que falo, porque, ao longo da minha carreira, servi já sob a orientação de 19 ministros dos Negócios Estrangeiros...

Foi esse percurso de crescente solidez de actuação que nos permitiu garantir a imagem de coerência e previsibilidade que hoje marca a nossa política externa e que conduz, com segurança, o exercício da nossa diplomacia. Por essa razão, felicito-me pelo facto do calor das discussões eleitorais nos ter poupado.

quarta-feira, setembro 30, 2009

Portugal Fashion Paris

Uma vez mais, a moda portuguesa e de portugueses apresentou-se em Paris, com destaque mediático.

De Portugal vieram Luís Buchinho e Fátima Lopes. Por cá está Felipe Oliveira Baptista. Foi ontem, nesta terra que é a capital da moda. Um excelente sinal. Aprendam a conhecer melhor estes estilistas, clicando nos respectivos nomes.

Notícias da aldeia

Nas aldeias, os cartazes das festas de verão, em honra do santo padroeiro, costumam apodrecer de velhos, chegando até à primavera. O país pa...