quinta-feira, dezembro 03, 2009

Democracias

A decisão dos cidadãos suíços, tomada em referendo, de proibir a construção de minaretes nas mesquitas, é uma atitude que, claramente, pode ser lida como relevando do sentimento criado naquele país em relação à comunidade muçulmana. As suas consequências políticas, bem como os seus efeitos colaterais, continuam a ser avaliadas em outros Estados, dada a sensibilidade que o tema tem, nomeadamente em termos de exercício da liberdade religiosa, num contexto mundial muito particular.

As regras da democracia, em particular as que vigoram na Suíça e que dão origem a frequentes referendos, são o que são. A utilização da democracia directa tem inegáveis virtualidades de mobilização cívica e de uma maior proximidade dos cidadãos face às atitudes do Estado. Resta saber se, por vezes, essa intensa "subsidiariedade" não é apenas uma tentativa para obter um conforto democrático face a decisões que se sabe serem  mais delicadas. Só que, como neste caso, o tiro pode "sair pela culatra" e o governo suíço vai ter agora de gerir externamente uma atitude de que os cidadãos votantes não tiveram em conta, seguramente, todas as consequências e repercussões. Para isso, para consagrar essa visão de conjunto no período de vigência dos seus mandatos, é que se elegem governos, com base em programas políticos. Alguns dirão que os suíços lá sabem, que é a sua vida. Será, mas, num caso como este, também pode afectar a nossa.

4 comentários:

Helena Sacadura Cabral disse...

Senhor Embaixador quando ouvi a notícia, não queria acreditar. Nem os próprios suiços, que julgaram que o resultado seria outro. Mas foram, ao que julgo, 57% de votos sim.
É difícil compreender como se vão, agora, a nivel governamental, gerir outras questões.
Mas depois lembrei-me da nossa limpeza de crucifixos em escolas, hospitais e quejandos. Não será o mesmo, é claro. Mas que o caminho está aberto...lá isso está!

Julia Macias-Valet disse...

Gosto da "candura de açucar" da imagem que escolheu.
Apesar de que assunto deixe muitos amargos.

Algumas intolerâncias que me recordo :

No Dubai a catequese é feita em casa em pequenos grupos. As desculpas ? O calor, as distâncias e outras "balelas". Eu diria antes : Pour vivre heureux, vivons cachés !
Naquela selva de gruas, guindastes e outros caterpillars nao me recordo de ter visto nenhuma igreja em construçao.

Quanto à Igreja Maronite de Paris, tem o sino dentro da igreja, porque o barulho incomodava os "riverains". Preparem os timpanos no caso de serem convidados para um casamento ou a um baptizado.

Na minha rua muitos dos meus vizinhos nao vêm com bons olhos a populaçao que frequenta a Escola International Argelina (uma escola corânica no XVIème !? Cruzes, credo !)

Permaneçamos ZEN....

Helena Oneto disse...

Acredito que, se o mesmo referendo fosse feito, amanhã, qui, em França, o resultado não seria muito diferente. E a minha opinião não discorda da sua quando diz "Alguns dirão que os suíços (neste caso de figura, os franceses) lá sabem, que é a sua vida. Será, mas, num caso como este, também pode afectar a nossa."

Julia Macias-Valet disse...

Uma pequena correcçao :
No meu comentario falei de "escola corânica". Mas preciso : A Escola Internacional Argelina nao é uma escola corânica. Referia-me, talvez de forma desajeitada, ao estilo vestimentar dos jovens que a frequentam assim como dos seus acompanhantes : tchadors, jhelabas, babouchas.

O outro lado do vento

Na passada semana, publiquei na "Visão", a convite da revista, um artigo com o título em epígrafe.  Agora que já saiu um novo núme...